Ministra da Igualdade Racial resgatou expressão para falar sobre impacto das chuvas em regiões periféricas.
Pretos, pardos, indígenas e pobres são mais afetados, explicam especialistas.
Pedestres enfrentam correnteza após chuva no Sol Nascente, no DF TV Globo/Reprodução Nas últimas semanas, temporais causaram estragos em várias regiões do Brasil.
Desastres naturais deixaram famílias desalojadas e causaram mortes.
No entanto, embora a crise climática seja sentida por todos, a população em situação de vulnerabilidade é a mais afetada.
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Segundo o urbanista Benny Shvarsberg, da Universidade de Brasília (UnB), o termo "racismo ambiental" é usado para explicar o processo de degradação das condições socioambientais que afeta, principalmente, populações marginalizadas como pretos, pardos, indígenas e pobres.
A expressão "racismo ambiental" foi criada na década de 1980, pelo pesquisador e ativista Benjamin Franklin Chavis Jr.
"Com base em pesquisas feitas nos Estados Unidos, ele demonstrou como as populações negras moradoras das periferias, e em condição de vulnerabilidade social, eram as primeiras a sofrer os efeitos dos desequilíbrios ambientais enfrentados pelos grandes centros urbanos", explica Michelly Elias, professora do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduaçao em Política Social da UnB.
Nesta semana, em suas redes sociais, a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, resgatou a expressão para falar sobre o impacto das mudanças climáticas nas regiões periféricas, onde historicamente a maioria da população é negra.
Publicação da ministra Anielle Franco no X, antigo Twitter Reprodução/X Além do Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e São Paulo, no Distrito Federal as fortes chuvas de janeiro deixaram ainda mais à mostra as desigualdades na capital do país.
Enquanto em áreas nobres, ou de classe média, a chuva é só um refresco para os dias de seca, na periferia cada temporal é sinônimo de medo.
Outro exemplo de racismo ambiental em Brasília está no contraste entre o número de árvores no Sol Nascente, maior favela do Brasil, e no Lago Sul, região nobre do DF que, se fosse um município, seria o mais rico do país.
O verde do Lago Sul contrasta com o cinza do Sol Nascente (veja imagem abaixo).
Distantes 35 quilômetros uma da outra, as duas regiões do Distrito Federal são tratadas pelo poder público de maneiras opostas.
Tal diferença também foi ressaltada pela ministra Anielle em suas redes sociais.
Publicação da ministra Anielle Franco mostra Sol Nascente e Lago Sul, da esquerda para a direita Reprodução/X Degradação x falta de amparo Para o antropólogo Paíque Duques Santarém, da UnB, o racismo ambiental é fruto da degradação dos ambientes onde a população negra habita.
"Há falta de investimento, monitoramento, acompanhamento, reparo e prevenção nos territórios onde a população negra está alocada.
Ou seja, os territórios que são de maioria da população negra recebem menos investimentos em saneamento, saúde, educação e infraestrutura", aponta Santarém.
A professora Michelly Elias explica que, primeiramente, é preciso ter uma ação do ponto de vista emergencial, para que não haja ainda mais prejuízos durante as chuvas.
"Uma ação sistemática do estado na esfera federal, estadual e distrital, para garantir a segurança dessas populações, envolvendo ações de assistência social.
Porque essas famílias precisam minimamente ter as suas condições mínimas de vida garantidas nesse período em que estão enfrentando risco eminente de vida", diz a professora.
Contudo, Michelly Elias alerta que a atuação emergencial, por si só, não vai resolver um problema que é estrutural.
"Esse problema só vai ser resolvido com um amplo processo de combate à desigualdade social que a gente enfrenta no Brasil hoje", diz.
"Outra questão é repensar a forma de organização das cidades, porque a forma como as cidades hoje estão organizadas, apenas quem tem um poder aquisitivo muito alto consegue ter acesso a todos os recursos que a cidade oferece", ressalta a professora.
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Publicada por: RBSYS
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